Holocracia – É possível uma organização sem chefes?

As conexões remotas, em todas as empresas, já promoveram mudanças de comportamentos em líderes e liderados. Esta mudança de comportamento é o princípio de uma mudança cultural, afinal, cultura é o que as pessoas fazem quando seus superiores não estão presentes e, nesta quarentena, uma coisa que deixou de existir é a presença de superiores, ao menos de forma física.

 Para muitos isto pode ser um alívio. Não ter que olhar para o chefe todos os dias ou poder conversar com um colega de trabalho sem ter que sussurrar ou promover a agenda oculta por meio de aplicativos de mensagens sorrateiramente. Será que esta atitude não está muito mais próxima da desconstrução de um ambiente saudável, do que da construção de um ambiente harmonioso?

 A liberdade de espaço é um dos benefícios que este isolamento tem proposto. Não precisamos estar no mesmo espaço físico para produzir e colaborar, mas para colaborar precisamos:

 Co – Estar juntos, pelo menos intelectualmente e se possível emocionalmente;

Labor – Haver Trabalho, suor, dedicação, cumprimento de tarefas e prazos;

Ação – De gerar impacto a partir do que foi construído em conjunto.

 Não precisamos estar na mesa sala, país ou até mesmo planeta, rs, mas é preciso estar sintonizado para pequenas tarefas ou em uma comunidade: COM+UNIDADE de propósitos e valores.

 A unidade de propósitos e de valores é que mantém um time unido para superar as adversidades, sejam elas do problema ao qual está sendo focado o esforço coletivo, seja aos problemas indiretos frutos do desgaste natural de pensamentos distintos dentro de uma mesma COM+UNIDADE.

 Propósito é uma palavra que tem sido utilizada por muitas organizações e especialistas em gestão de pessoas com o intuito de definir aquilo que você saber fazer bem (talvez melhor do que qualquer outra pessoa), que o mundo precisa.

 Gosto da seguinte definição de propósito que é o alinhamento de quatro pontos

 –  Algo que você faz bem –que executa melhor que qualquer outra pessoa

–  Algo que você ame fazer – que faz enquanto ninguém está te vendo

–  Algo que seja útil pra outras pessoas – beneficia o próximo

– Algo que é pago pra fazer – quando você além dos aspectos acima é remunerado para fazer

 Os valores são os limites ético e moral pelos quais não está disposto abrir mão para cumprir o seu propósito, por exemplo: valores humanos, cumprimentos de leis, etc.

 Chegamos a questão central, Holocracia. É possível uma organização sem chefes, obter o seu objetivo central e mesmo assim permitir que todos estejam cumprindo seus propósitos e alinhados com seus valores?

 A minha opinião é que precisamos avaliar com um pouco mais de profundidade. Do ponto de vista organizacional, se todos estão alinhados com seus propósitos e dentro dos seus valores, não há o que dar errado as linhas de produção funcionam assim, mas a complexidade maior acontece quando parte do esforço destas pessoas é proveniente de capital intelectual, pois muitos fatores importam além dos acima citados.

 Holocracia é um sistema criado pelo americano Brian Robertson para a gestão de negócios. Nas palavras dos próprios criadores do sistema, holocracia é uma nova forma de administrar uma empresa, que se dá através da remoção do poder de uma estrutura hierárquica, substituída por um sistema de distribuição da autoridade.

 É justamente nesta definição que está o ponto central da discussão. Como fazer com que líderes de organizações (grandes ou pequenas) desconstruam sua visão de poder, baseada na autoridade hierárquica há décadas sendo a regra do jogo para do alpinista organizacional? Como fazer com que esta estrutura onde por anos o relacionamento e a política por vezes é mais importante que resultados, seja ignorada ou simplesmente abandonada? A remoção de poder é um paradigma que foi construído ao longo de milênios pelo homem.

 Desde os primatas, a relação de liderança sempre esteve associada ao poder. Antigamente e, porque não dizer hoje em dia, os mais fortes lideravam. Quando éramos apenas pequenos grupos de rústicos seres humanos, a liderança era direta. Quando estes grupos passaram a ser tornar tribos e o poder das tribos se superavam a outras tribos, começou a existir a hierarquia de um grupo sobre outro e logo em seguida a distribuição de tarefas. Os da tribo superior aprisionavam os da tribo inferior que faziam os trabalhos mais pesados.

 A liderança em determinado momento, em virtude de um grande grupo de indivíduos passou a se tornar impraticável e então iniciou-se a distribuição de poder outorgada pelos líderes mais fortes.

 Pois é, como podemos ver brevemente acima, holocracia não é simplesmente uma cadeia de tarefas organizada por um trello ou runrun.it (softwares de gestão de tarefas), mas sim, uma mudança cultural em que o indivíduo precisa negar toda sua idealização de poder existente desde que os seres humanos se organizavam em grupos e passar a se auto-realizar mais pelo resultado colaborativo de seu esforço, do que pelo poder de sua liderança.

 Há ainda um fator a se considerar, que é o primitivo e hábil instinto animal de construir atalhos para poupar energia em sua jornada de vida. Os estudos de neurociência já nos mostraram que este é o caminho natural de nossa vida, por isso construímos hábitos (entenda mais sobre os hábitos em nosso artigo), para economizarmos energia e reduzir nossos esforços. Será que neste processo em um trabalho extremamente colaborativo, a pró-atividade de outro ou a inteligência superior de outro integrante não irão sempre incentivar a zona de conforto de um integrante, que em determinado momento poderá ser julgado de não estar colaborando com o time?

 O isolamento social forçado a que estamos submetidos tem nos obrigado a sair da zona de conforto e fazer com que muitos líderes repensem o que é ser líder e se é possível mesmo ainda nos dias de hoje exercer o mesmo poder com que tantas organizações foram construídas. Será possível?

 Com relação aos liderados a pergunta tem uma perspicácia ainda maior, será que como liderado eu estou pronto para viver meu dia a dia só dependendo de meus impulsos de motivação para realizar as atividades e não prejudicar o andamento dos desafios do meu time?

Aos líderes é hora de repensar a liderança e se você precisa mesmo carregar sua autoridade de poder. A vida pode ser mais leve.

Aos liderados é hora de refletir o quanto possuem de energia produtiva espontânea, sem ter que sempre receber ordem de alguém ou ser “motivado” pelo medo.

Espero que todos nós estejamos nos preparando para esta nova era.

Obrigado pela leitura!

#foguetenãotemré

Marcelo Scharra

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