Vendedor: herói ou vilão?

Escrito por Marcelo Scharra

Quando somos crianças temos muitos sonhos. Afinal, quem nunca sonhou em ser bombeiro e salvar vidas? Ou um super-herói e livrar a cidade do mal? Há ainda quem já sonhou em ser bailarina, cantor e até rockstar. Dentre as profissões mais tradicionais, muitos sonharam em ser médicos, advogados e engenheiros. Atualmente, já vemos crianças que sonham em ser youtubers e outras profissões mais contemporâneas.

Estes sonhos são comuns em nossa infância – alguns nem tanto. Mas quem já sonhou em ser vendedor? Arriscaria dizer que a resposta pode estar muito próxima de “ninguém”. Pois é, essa é a razão pela qual escrevi este artigo, e se você é vendedor, não pode deixar de ler até o fim.

 

Nossos sonhos estão, quase sempre, atrelados à imaginação de algo grande, inteligente, poderoso, corajoso, ligado à superação que nos autoempodera. Características estas que, definitivamente, o estereótipo do vendedor não carrega, ou seja, não serve de inspiração para ser um sonho de criança.

Quando pensamos em vendedor, logo vem à nossa mente aquela pessoa que vai te interromper sem permissão, que vai tirar vantagem sobre você. Ele até pode oferecer algo de seu interesse, mas não nesse momento, não com essa abordagem.

Esta visão vem sendo construída desde que o homem passou a desenvolver um relacionamento mercantil, inicialmente com troca de produtos, o escambo, e depois com a troca de moedas por produtos. Mas, o problema não está na troca em si, e sim nos meios que as justificavam.

 

A expressão “Vende gato por lebre” é emblemática. Ela surgiu em tempos de guerra, quando os comerciantes vendiam carne de gato no lugar da carne de lebre que, além da semelhança física, utilizava o mesmo processo de marinar as carnes para que perdessem seu cheiro característico, facilitando, assim, o golpe.

Outro caso registrado e memorável quando estudamos a história das vendas é o famoso “Snake Oil”, traduzido para o português como “Óleo de cobra”. Conta a história que, durante a construção das grandes ferrovias dos Estados Unidos, os chineses forneceram óleo de cobra para que aqueles que ali trabalhavam pudessem passar em suas articulações doloridas. Este medicamento, que possuía efeito duvidoso, caiu no gosto dos americanos e, assim como na guerra, não faltaram pessoas que se apropriaram dele para vender diversos outros líquidos aromatizados, que nada tinham de raridade, efeito curativo e nem mesmo de cobra eram, utilizando apenas o nome e seu valor.

 

Este e tantos outros exemplos ajudam a responder a nossa questão inicial.

Quem sonha em vender lebres e entregar gatos? Ou vender óleo de cobra e entregar líquidos aromatizados? O que tem de admirável em ser um enganador? Queremos ser heróis, não vilões.

 

Enfim, este estigma tem fundamento e é secularmente sustentando por muitos vendedores que ainda se baseiam em antigos métodos de vendas para convencerem seus clientes ou consumidores.

Porém, vivemos em uma época em que as transformações e revisões de valores têm sido cada vez mais pauta de nossa agenda cotidiana, na qual estes tipos de prática não são mais aceitas. Então, porque não revisitar e/ou revitalizar o estereótipo do vendedor? Quem sabe até ao ponto em que teremos crianças querendo ser o super-herói das vendas?

 

Lembrando as características do início do texto de que nos fazem sonhar:

 

Grandeza

Quem é a pessoa que promove o progresso no mundo capitalista? Quem é que vence grandes barreiras técnicas comerciais, interpessoais para vender e assim garantir o crescimento das empresas que resultam em progresso?

 

Inteligente

Quem tem de saber de diversos assuntos e fazer conexões rápidas sobre diversos temas?

 

Poderoso

Quem tem o poder de tangibilizar benefícios de produtos e serviços, utilizando a empatia para entender e trazer o melhor benefício para os clientes?

 

Corajoso

Quem é capaz de viajar por um estado, país ou mesmo continentes para vender, as vezes apenas uma ideia?

 

Superação

Quem vence as adversidades todos os dias, pratica a resiliência e tem a capacidade da automotivação diante de estímulos negativos, por vezes recorrentes?

 

Somos nós, vendedores – personificação do progresso, grandes, corajosos, poderosos e que se superam todos os dias diante das mais inesperadas adversidades.

 

Todas estas características não diminuem nenhuma outra profissão, mas colocam o vendedor em seu devido lugar, ao ponto de tornar-se uma profissão digna de ser sonhada.

 

Como conta o livro, ainda sem tradução para o português: “I want to be in sales when I grow up!“, de Jbarrow, que em tradução livre seria: “Eu quero ser vendedor quando crescer”.

Neste livro, uma simpática menininha vive uma breve jornada de vendedora e acumula ricas experiências que a fazem querer se tornar uma quando crescer.

 

Acredito que o vendedor é um herói. Aliás, porque não dizer um super-herói?

 

E mais do que isso, ele é a personificação do progresso, ele é quem faz e quem promove. Explico. São os vendedores que convertem produtos e serviços em receitas, sendo assim, protagonistas do progresso. São eles que promovem a competição e vivem dela, acirrando e estimulando ainda mais o progresso.

É preciso, portanto, que, assim como somos capazes de fazer empresas crescerem exponencialmente, devemos nos dedicar a estudar mais e nos preparar cada vez mais para mudarmos, a partir de cada um, este estereótipo de vendedores e ocuparmos definitivamente a posição de destaque que de fato merecemos.

 

Vender é a arte de praticar e estimular o progresso diariamente.

Viva todos os vendedores!

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